Dezesseis cidades da região de Piracicaba não cumprem meta de alfabetização de alunos: 'educação tem que ser o princípio de tudo'

  • 28/05/2024
(Foto: Reprodução)
Dados são do MEC e se referem à alfabetização ao final do 2º ano do ensino fundamental. Para especialista, mudança do cenário passa pela escola, família e políticas públicas. Sala de aula em Piracicaba: especialista aponta que diferentes fatores influenciam no índice de alfabetização Divulgação/SAP Dezesseis das 18 cidades da área de cobertura do g1 Piracicaba não atingiram a meta de alfabetização de alunos na idade certa em 2023, em avaliação do programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, do Ministério da Educação. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (28). O monitoramento é feito através da Pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A avaliação é da alfabetização de crianças ao final do 2º ano do ensino fundamental. O padrão nacional de desempenho da criança alfabetizada foi estabelecido em 743 pontos na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A partir dessa definição, foram definidas metas anuais para cada cidade. 📲Receba no WhatsApp notícias da região de Piracicaba Em 2030, a meta é que todas as crianças desse grupo estejam alfabetizadas. Mais de R$ 1 bilhão já foi investido no programa, segundo o MEC. Em 2023, na região de Piracicaba, as metas foram cumpridas em Águas de São Pedro (SP) e Rafard (SP). Por outro lado, duas cidades tiveram nível 1 (de 40% a 50%) e nove ficaram no nível 2 (entre 50% e 60%) de alfabetização, em uma escala que vai até o nível 5 (quanto maior, mais elevada a proporção de alunos alfabetizados). Veja no quadro abaixo: A pedido do g1, a doutora em educação Dora Megid, especialista em formação de professores, analisou os dados. Segundo ela, a mudança do cenário passa pela escola, família dos estudantes e por políticas públicas. Em perguntas e respostas, confira a análise abaixo: O que se espera da alfabetização no 2º ano? Segundo a especialista, ao final do 2º ano do ensino fundamental, se espera que a criança reconheça as letras, forme palavras e, em alguns casos, até elabore frases. Na matemática, espera-se cálculo simples, de pensamento lógico. Além disso, ter uma percepção relacionada a ciências, em questões de ambiente, tempo e temperatura. "Ela tem uma uma condição de perceber esse mundo que ela está inserida e ir fazendo a decodificação dele, quer seja na leitura de pequenos textos, na leitura gráfica também, de pinturas, de algumas questões artísticas, e também relacionada à aquisição do conceito numérico e algum conceito geométrico", explica. O que influencia no cumprimento das metas? Em um cenário mais recente, Dora aponta influência da pandemia: "A escola, claro, passou por uma grande desafio durante a pandemia [de Covid-19]. Ela foi pega de surpresa e, do dia para a noite, todos que trabalhavam com educação precisaram reinventar os processos. As famílias tinham muito pouco acesso às questões relativas ao remoto, pouca gente tinha internet com qualidade", relembra. De maneira geral, a especialista afirma que a educação tem de estar ancorada em um tripé composto pela escola, família dos alunos e políticas públicas: Escola A educadora ressalta o desafio de adaptar a educação às características de cada estudante. "A gente fala muito: 'os alunos têm dificuldade de aprendizagem'. Os professores têm também dificuldade, entre aspas, de 'ensinagem'. A gente tem lá uma sala de aula numerosa - e isso é outro problema -, onde cada criança é um ser único [...] tanto em relação a sua condição física, sua condição emocional, sua condição familiar. E o professor tem que dar conta daquela chamada inteira, 25, 30 35 alunos com suas especificidades". Políticas públicas Em relação ao poder público, ela aponta a necessidade de ter assegurado ambientais apropriados e agradáveis. "A gente sabe que tem escolas que não convidam a criança para ficar lá. Elas não têm material de limpeza suficiente, não têm janela. Quando faz um calor enorme, as crianças ficam quase sufocadas ali. Se faz um frio grande, também há prejuízo no sentido do bem-estar. Então, o poder público tem que olhar para isso". Outra questão destacada pela especialista é a necessidade de melhor remuneração do professor: "O professor bem remunerado pode trabalhar com menos turmas. Me dedicar a essa turma no meu planejamento e no olhar específico para cada uma dessas crianças. Quando eu preciso dobrar período ou trabalhar um período na escola e outro período com alguma outra atividade para poder conseguir um salário que mantenha a vida da minha família, isso fica muito complicado", alerta. Família De acordo com Dora, a escola tem que entender que a família tem dificuldade para acompanhar o desenvolvimento das crianças nas questões pedagógicas. "Não acho que a gente tem que esperar que aquela pessoa da família que está com a criança lá tem que reforçar questões pedagógicas da escola. Eu acho que à escola cabe o que é da escola. Mas a família precisa estimular essa criança a ir para a escola. E aí a escola tem que chamar a família nessa parceria de estar junto, de mostrar o valor que a escola tem na vida da criança". Nessa parceria, ela aponta que a escola deve incentivar a família a ter livros e permitir acesso a esse material. "Às vezes, aqueles que que cuidam das crianças não têm muita ideia de por onde podem dar suporte. E a escola pode trazer saídas para isso também". Por que cidades menores tiveram melhores índices? Segundo Dora, são cidades onde as pessoas se conhecem mais, umas dão suporte às outras e têm uma vida menos atribulada. "Em Campinas, nós temos bairros que certamente têm uma população maior que Águas de São Pedro. Mas a gente pode, dentro daquele bairro, com algum suporte político, um suporte bom da coordenação da própria escola, trazer esses essas famílias para que elas consigam observar maneiras de estimular essas crianças. A criança sendo estimulada, certamente, vai querer aprender mais". Como fazer a recuperação na alfabetização? A recuperação de qualquer aluno em qualquer idade tem de ser paralela e contínua, segundo Dora. "Não adianta você ficar reprovando como acontecia nos anos 70. [...] Aí reprovam um ano, reprova dois, daqui a pouco ele sai da escola [...] O que resolve é essa recuperação paralela e contínua". Governo lança programa de alfabetização infantil de R$3bi Ela destaca que é necessário que o professor tenha um olhar mais cuidadoso com as crianças com níveis diferentes de aprendizado em relação ao esperado. "Eu falo que a escola tem que ser um pouquinho como um hospital. Quem vai no hospital e tá tudo bem, você vai ficar tomando conta dele? Não vai [...] A escola tem que ter um olhar mais expressivo para essas crianças que têm essas particularidades evidentes, ou às vezes nem tão evidentes assim". Ela lembra algo que diz durante a formação de professores que realiza: "Quando uma criança diz 'professora, eu não entendi', ela não disse 'professora, eu não escutei'. Porque se foi 'eu não escutei', repita tudo de novo e ela tem oportunidade de ouvir. Agora, se é 'eu não entendi' é porque daquela maneira como foi explicado não foi suficiente para ela compreender. Então, eu professora tenho que verificar uma outra alternativa, uma outra estratégia, uma outra experiência que favoreça para que essa criança também chegue na compreensão". Qual é a importância da educação? "Educação tem que ser o princípio de tudo. Uma sociedade educada é uma sociedade mais saudável, é mais segura, cujo nível tecnológico é maior [...] Fazer um olhar bem feito para a educação é virar uma chave pra mudança em todos os aspectos. Você pode vir em nível mundial. Os países mais desenvolvidos são certamente aqueles que têm um olhar primordialmente voltado para a educação", destaca a educadora. Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba

FONTE: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2024/05/28/dezesseis-cidades-da-regiao-de-piracicaba-nao-cumprem-meta-de-alfabetizacao-de-alunos-educacao-tem-que-ser-o-principio-de-tudo.ghtml


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